domingo, 18 de dezembro de 2011

YS: The Vanished Omens - MASTER SYSTEM

Eu roubei esse cartucho da locadora. Eu ROUBEI esse cartucho da locadora. Sério, EU ROUBEI ESSE CARTUCHO DA LOCADORA.

                             
Uma de minhas maiores frustrações nessa vida é nunca haver chegado ao final desse game. 
                              

Então aquele era o Master System. Eu tinha 15 anos. Mais ou menos isso. E tinha meu amigo memorável, de infância, o Ygor. A gente passava madrugadas inteiras jogando esse game. Esse e vários outros games do Master System. Nossa amizade começou, aliás, justamente por causa do console de 8 bits da SEGA. Eu havia acabado de me mudar para o bairro e soube de um cara que conhecia um cara que conhecia outro cara que tinha uns cartuchos de Master System. Isso numa época em que os filhinhos de papai já ganhavam seu Super Nintendo de Natal. Então conhecer Ygor foi como achar o último Big Mac na África. Lembro bem que o jogo que trocamos na ocasião foi o INDIANA JONES (que até hoje figura em minha memória como um dos games mais dificeis de se jogar).

Pois bem, numa outra ocasião conto como esse cartucho veio parar em minhas mãos (é uma longa e divertida história de delinquência juvenil) , mas o que nos interessa é que naquele mesmo ano nós nos deparamos com o odiado e ao mesmo tempo idolatrado YS: THE VANISHED OMENS.

ESSE JOGO FOI RESPONSÁVEL POR ME DESPERTAR PARA OS "GAMES SÉRIOS".

Sobre o jogo, há muito a se dizer. Mas primeiro o plot: Entramos na pele de Adol Christin, e o jogo começa a partir do momento que ele chega em Minea. 

Agora vamos simular o que ocorre na realidade, partindo do fato que “com certeza” você está jogando no próprio Master System: “você coloca o cartucho e aperta power, eis que surge uma linda tela de abertura, com uma mulher nua segurando uma bola (e na época aqueles pixels pareciam mesmo pornográficos) … de cristal! É uma mulher nua segurando bolas de cristal, YS escrito em letra bonitinha e o subtitulo embaixo. Como tradição do Master System, não havia muito o que configurar. Quer dizer, não havia NADA. Só bastava apertar start (botão 1, no caso) 
Bom, você então inicia o jogo e começa a andar pela cidade de Minea. 

Pulei algo? Não, e é assim que Ys começa: Sem aberturas, apresentações, histórias, tudo aquilo que hoje é obrigatório, em Ys, você começará e sairá jogando. Parece estranho, mas visto que muitos RPGs hoje considerados épicos começaram assim, nossa opinião terá uma segunda chance. Voces que estão ali jogando Skyriin tenham a decência de conhecer e respeitar as origens do gênero.

Um dos encantos do enredo de Ys é justamente não “cuspir” a história para o jogador como se o jogador fosse um retardado mental sem massa cinzenta. Hoje em dias os RPG's fazem isso com um vídeo de 45 minutos contando toda a história pra voce. Isso é ofender sua inteligência. Não deixe ninguém fazer isso com você. 

No Ys, conforme sua aventura progredir, você montará pedaços fundamentais do enredo, portanto, seu objetivo não é totalmente claro em praticamente todo o desenrolar do enredo, e só será possível descobrí-lo encaixando todos os pedaços desse misterioso quebra-cabeça. Inicialmente, como em todo bom RPG, você conversará com as pessoas do vilarejo, tomará umas e outras, e claro, fará bicos para conseguir uma graninha, afinal, todo herói já foi um cara ordinário algum dia. Mas logo que você falar com a mística Sara, seu destino inicial será revelado, e assim sua jornada começará a ganhar sentido.

                                      

Como curiosidade, eu acrescento que eu e esse amigo, o Ygor, passávamos horas e horas copiando os textos para um caderninho, onde com o auxílio de um dicionário básico, íamos traduzindo palavra por palavra. Naquela época não fazíamos a menor ideia de como se falar inglês, então as traduções ficavam precárias. Mas prosseguíamos deduzindo a historia.

FALANDO DE QUESTÕES MAIS TECNICAS AGORA. Mesmo limitado ao joystickzinho quadrado de dois botões do Master System, o sistema de Ys não trará complicações aos noobs aventureiros iniciantes, você terá disponível um menú com 6 opções básicas, mas que suprem todas as necessidades do jogo: 
Exit: Se você não quiser apertar o botão 1 para sair do menú, pode sair pelo “Exit”. Bom, pode até ser útil, vai que seu botão 1 não funciona mais. Tô brincando, essa função é ridiculamente inútil mesmo. 
Status: Aqui temos uma tela com os atributos base do herói, seu nível (Level), seus pontos de vida (HP), sua força (STR), sua defesa (DEF), sua experiência adquirida (EXP - isso voce vai aprender a acompanhar de pertinho, vai por mim) e a quantidade de dinheiro (GOLD). Logo abaixo, temos o nome de todos os equipamentos utilizados no momento. 
Equipment: Nessa tela podemos equipar e retirar os equipamentos que possuímos. São eles: Sword (Espada), Shield (Escudo), Armor (Armadura), Item e Ring (Anel). Eu traduzi isso porque estou ofendendo sua inteligência propositalmente. 
Read Book: Esse sub menú só terá utilidade quando for adquirido o primeiro dos seis livros da profecia. Após isso, você poderá lê-los a qualquer momento e descobrir mais sobre a obscura história de Ys. 
Load Data: É possível ler um jogo que foi salvo. Pode parecer simples, mas muitos jogos pecam por não terem essa simples, mas imensamente útil opção. (NOTA PESSOAL: Se voce estiver MESMO jogando no Master System, saiba que o cartucho tem uma bateria interna para armazenar os saves, e no ritmo de jogatina diária - e sim, voce passará horas fazendo isso - ela tende a não durar muito e então, misteriosamente, seu save irá para o espaço. 
Save Data: Pode salvar um jogo, aparentemente também leviano, mas bom, pense que muitos RPGs dessa época ainda utilizavam passwords. Poisé, e de quebra, você ainda pode salvar no local que quiser, sem a necessidade dos terríveis pontos de save. ISSO SIM É MARAVILHOSO. 

Geralmente uma das coisas mais esperadas para se julgar um bom jogo de RPG, claro, são as lutas! E quando esse momento chega em Ys… arrrrrrgggghhhhhh! Já vi calopsitas mancas e caolhas lutarem com mais dinamismo. Bom, resumidamente, você terá que literalmente bater de encontro com os inimigos, se você for mais forte, matará, se for mais fraco, tomará, nada muito complexo. Até os jogadores de wii vão entender isso. Com o tempo você pegará algumas manhas, do tipo esquivar-se rapidamente e desferir um golpe sorrateiro pela diagonal num ângulo de 135°, o que parece simples, mas isso exige um pouco de prática com aquele controlezinho. A hora que você mestrar essa técnica ancestral, garanto, seus oponentes não terão uma segunda chance. Nem preciso dizer que, como em todo “Oldschool RPG”, horas de combates serão perdidas para se conseguir níveis, e assim partir para o próximo castelo ou caverna. É aquela velha história de ficar na área fácil dando porrada nos bichinhos fraquinhos até dar Level up.

                                     

É fato que os labirintos de Ys são desafiadores, prepare-se para rabiscar alguns papéis, pois boa parte dos segredos do jogo estão escondidos nas entranhas mais obsoletas de templos e cavernas. Passagens secretas são uma constante, em algumas partes, acho que perdi os poucos fios de sanidade que tenho. Claro, nada comparado com os labirintos estratosféricos de Phantasy Star (to falando do PRIMEIRO, também do Master). Mas ainda assim explorar esses labirintos é muito foda, com a visão de Ys, que é isométrica, e várias horas serão perdidas tentando-se desvendar portas ocultas e tesouros escondidos, e isso garanto, é o maior desafio dessa jornada.

                                      

Ys é um jogo que ultrapassa gerações, e cada geração que atravessa, deixa mais fãs, tanto pela bela história quanto por sua músicas inesquecíveis. Ganhou trocentas outras versões e continuações para plataformas diferentes, e essa aqui do Master System, apesar de ostentar gráficos antiquados e um sistema simplório para os padrões atuais, devemos nos conter à época em que foi lançado (1987), até mesmo antes do clássico Final Fantasy. Em um âmbito mais pessoal, minha paixão pelo 1° Ys é muito maior do que pelo 1° Final Fantasy (que aliás, é uma série que eu detesto), mas isso senhores, não pode ser discutido, pois tem caráter fortemente nostálgico. No geral, Ys é um jogo excelente, e recomendo para pessoas que não possuem preconceito pelas técnicas ultrapassadas que estão evidentes, mas conseguem olhar além do óbvio, que é um mundo original, um enredo digno de um livro, com personagens bem elaborados, e além disso, consegue ser muito divertido e desafiador. 

Ys sempre será um dos medalhões do RPG, e tenho dito.

E UM DIA, UM DIA, EU AINDA VOU ZERAR VOCE, SEU JOGUINHO IMBECIL.


Curiosidades 

- A primeira vez que você viu Goban Tovah, o líder da guilda dos ladrões, não teve a ligeira impressão que já o viu em algum outro lugar? Tipo, no Village People? 
- Ys para Master System foi o 2° relançamento para um console, porém no geral, foi o 7° relançamento do jogo desde sua primeira versão de PC-8801. Todos os relançamentos ocorreram entre o período de 1987 a 1988. 
- A versão de Master System é a primeira tradução em inglês do jogo, por isso, muitos nomes de personagens e itens foram traduzidos de forma diferente do que vemos nos jogos atuais. Por exemplo, nomes como Aron (Adol), Jeba Tova (Jevah Tovah), Luther Jema (Luther Gema), Dulk Dekt (Dark Fact), e lugares como Zepik Village (Zeptic Village), Palace (Shrine) e Tower of the Doomed (Darm Tower). 
- A versão japonesa chamava-se Ys, a versão norte-americana chamava-se Ys: The Vanished Omens e a versão trazida ao Brasil pela Tec Toy, chamava-se Y’s. SIM, TINHA A PORRA DE UMA VERSÂO TRADUZIDA QUE EU NUNCA VI NA MINHA FRENTE. 


MINHAS CONCLUSÕES FASCISTAS SOBRE O GAME

Gráficos: 

Muitos comparam a versão de Ys para NES com a de Master System. Teoricamente, no NES deram uma remodelada nos gráficos, adicionando texturas e objetos - coisa que a nintendo vive fazendo até hoje, que é tirando o caráter dark dps seus jogos, mas na prática, a versão de Master System é muito mais fiel a original do computador PC-8801. Para o potencial gráfico do console, Ys não pode ser considerado um auge (notoriamente o console atingiu picos mais altos em outros títulos, como Moonwalker), mas possui cenários grandes e bem coloridos, o desenho dos personagens principais são muito detalhados, e outro ponto forte são os sprites de NPC’s e inimigos, que apesar de não haver grande variedade, são bem simpáticos. Mesmo sem a menor animação que seja, nem para caminhar.

Música: 

Só tenho duas palavras para descrever essa experiência, Yuzo Koshiro, para quem não está familizarizado com o nome, trata-se simplesmente de um dos maiores gênios da música de videogames, que junto com Mieko Ishikawa e Abe Ryuujin, fizeram mais um clássico. Por tratar-se de um port, as músicas foram originalmente compostas para PC-88, e na versão de Master System foram arranjadas pela “Sound Team J.D.K”, equipe de som da Falcom. Ou seja, traduzindo esse blablabla, o que essa galera fez foi pegar os sons que eram mais complexos na versão original e fizeram um milagre ao possibilitar que rodassem com dignidade na plataforma de 8 bits. As músicas de Ys são épicas e continuam conquistando novos adeptos que não puderam apreciá-las na época. “Feena” e “Fountain of Love” são músicas tenras e que ficam na memória, já “First Step Toward Wars” e “Tower of the Shadow of Death” são músicas heróicas. Claro que sei disso hoje, já que na época eu não dava muita bola pra isso. Temos também as músicas de chefes, que sempre foram o ponto forte de Koshiro, como as enérgicas “Holders of Power” e “Final Battle”, e tenho certeza que você não esquecerá quando Reah tocar sua harmônica, com a belíssima “Temple del Sol”. Vai fazer Ocarina Of Time parecer um grupo de pagode. E digo isso com propriedade, pois salvo a devida proporção, o sentimento épico é o mesmo.
Claro que depois de uma hora seguida jogando voce vai discretamente baixar o som do PC. Ninguém aguenta tantos agudos polifônicos na cabeça por muito tempo.


Enredo:

Originalidade é a palavra. O enredo também é outro ponto forte, o fato de desvendarmos a história de Ys
ao longo do enredo torna o jogo mais misterioso, consequentemente, mais interessante. Muitos fatos são deixados encobertos e exigirão imaginação, pois os segredos estão por toda parte, explorando a sede por aventura. Eu costumo comparar jogos com enredos bons a livros, onde a cada página temos uma nova surpresa, e com Ys é assim, cada novo passo da aventura terá boas surpresas. algumas delas eu confesso que são bem clichês, mas devido a idade do jogo e a originalidade de boa parte dos acontecimentos, um possível preconceito será equivocado.

Jogabilidade

Devo salientar que, para fazer um review, tento esquecer ao máximo os valores sentimentais, e me focar no jogo em si, mas claro, me contendo a sua época. A jogabilidade de Ys é mediana mesmo para a época em que foi lançado, e diria que muitas vezes ela se torna cansativa pela repetição da simplicidade. Se por outro lado temos músicas e enredo criativos, aqui caímos num buraco escuro e tenso, muito tenso. As batalhas realmente não são empolgantes, trombar com seus oponentes constantemente pode torna-se um martírio, ironicamente, falta “Ação” num título de “RPG/Ação”, porém, procurei não descontar mais, afinal, o foco de um RPG não precisa ser necessariamente a dinamicidade, e sim um enredo bem elaborado.

Replay:

Uma vez terminado o jogo, creio que não haverá muitas novidades nem muita vontade de iniciar essa história de novo, pois a maior parte dos segredos do jogo são essenciais para o progresso do mesmo. Porém, por tratar-se de um jogo curto e divertido, acho que vale a pena mais um partida após algum tempo (no meu caso, foram 10 anos, para relembrar essa experiência que é jogar Ys, que posso afirmar sem receios, é um dos melhores títulos para Master System.


FELIPE LACERDA (que aproveitou o embalo e baixou outras roms de Master System aqui no notebook)


ALERTA DE SPOILER NO VIDEO ABAIXO